moinho de sonhos

A Menina de Engenho|criações surgiu da necessidade de mostrar um pouco do meu trabalho como artista visual. Como estou sempre criando e idealizando sonhos em forma de arte, resolvi mostrar alguns desses trabalhos e trocar idéias com os blogueiros que assim como eu estão sempre "moendo" novas idéias.

Sejam bem- vindos!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Viagem a São Paulo

ARte puro                                        
                                   Tamara Sorrentino*

Nunca havia saído do Nordeste e nem andado de avião, então acredito que ter sido normal a ansiedade para que chegasse o dia 4 de dezembro de 2010. Estava me perguntando: Como seria São Paulo, já que conhecia apenas pela TV? Minha agitação aumentava quando pensava que finalmente iria conhecer os museus e espaços culturais da cidade mais populosa da América Latina. Mas será que vista de perto seria tão grandiosa e intimista assim?
                       

Ela é sim! Bem maior do que até mesmo minhas palavras possam descrever. A cada novo espaço, novas descobertas, novos sentimentos... Eu e minha companheira nessa aventura, Lúcia França, tínhamos um roteiro para seguir. E foi cumprido com êxito! Mas queríamos mais...
            No primeiro dia, nem o cansaço da viagem de sete horas tirou nossa animação. Fomos ver de perto um pouco da organização das feiras de rua de lá. Muitas cores, cheiros, pessoas, sorrisos, sotaques por toda parte. Um pouquinho da diversidade cultural que existe em São Paulo.


 
         Não posso começar nossa aventura sem citar algumas pessoas essenciais nessa viagem, verdadeiros guardiões que nos ajudaram e nortearam. A começar por Fernando Abath, que batalhou pra que ela saísse e acreditou na sua importância; depois a Glaúcia Azevedo, que nos colocou à frente de pessoas incríveis que, se não fossem por elas, essa viagem não teria sido tão especial. Pois se era por tesouros que nós procurávamos, o Marquinhos, a Moana, a Fátima, a Suellen e o Bádem foram os primeiros que encontramos por lá, nos recebendo em seu lar tão bem. 

A cada nova parada num metrô mais obra de arte, verdadeiras galerias de rua, expondo imensos painéis. Tornando a correria do dia a dia mais agradável para aqueles que descansam, mesmo que por alguns instantes, naquelas cores e linhas artísticas.




            E assim vamos desfrutando da viagem. No Parque Ibirapuera um Festival de Jardins do MAM surgia com a caminhada até o Espaço da 29ª Bienal de Arte (Há sempre um copo de mar para um homem navegar). Eram sementes de esperança que tinham sido brotadas por artistas como Beatriz Milhazes, Erik Borja, Ernesto Neto, Daisy Cabral, Michel Racine, Béatrice Saurel, Florence Mercier, Louis Benech, Dimitri Xenakis, Maro Avrabou, Pazé, Cristine e Michel Péna aumentando nossas expectativas.  
            Girassóis que encandeavam com suas luzes e flores de beleza por toda parte. Nos perdemos diante do labirinto criado por pés de milho. Nos encontramos nos mandacarus...


  
Mas nesses jardins também nascem esculturas de alumínio, de ferro, de madeira, de arame, que complementam o espaço, parecendo já fazer parte daquele ambiente. Dentro do salão de exposições da Bienal continuamos a navegar naquele copo de mar, mar de conceitos, de cores, de gente. Não só observamos como também sentimos cada uma das 850 obras ali presentes. E nesse mar ficamos a navegar o resto da tarde.



A noite chegou e, a partir daquele instante dormir era um incentivo para repor energias e aguardar um novo dia de conhecimento que viria. E ele veio cheio de disposição. Encaramos mais de treze exposições. Esculturas de rua, feitas em papel machê do Hospital H.A. Camargo, simbolizando que o conhecimento é o melhor remédio para a prevenção. Eram figuras simpáticas que despertavam os olhares de pessoas de todas as idades que passavam por ali. 

 
E a nossa primeira visita do dia foi ao MASP (Museu de Arte de São Paulo), onde nos deparamos com paredes gigantescas contendo as pinturas contemporâneas alemãs na exposição Se não neste tempo.
Na saída do MASP vimos o espaço coberto por linhas, que ponto a ponto formaram uma concha de tramas azuis que se instalou por toda área externa, numa criação de Regina Silveira.
Passamos no escritório de arte do curador Renato Magalhães, que nos recebeu muito bem e não só abriu as portas, como também janelas, livros, catálogos e estantes do seu acervo. Mergulhamos em antiguidades, obras de artes e em histórias vividas. Uma aula de conhecimento com um professor no assunto. As horas passaram rapidamente e daquela boa conversa surgiu o convite para participarmos de todo o processo de montagem e de abertura da exposição do artista francês Jean Pierre Lacourt, no ateliê de Bia Doria, no bairro mais nobre de são Paulo. De volta ao Jardim, o prazer é todo nosso!


Estávamos de volta a Avenida Paulista, então aproveitamos para conhecer mais um de seus encantos! Fomos a Galeria da Caixa Cultural e descobrimos que naquele lugar dava-se vida à obra de um mestre. Havia sido montada uma exposição que resgatava o trabalho de um dos precursores e mais admirados gravuristas do Brasil: Carlos Oswald. Encantada!


Satisfeitas sim, mas dispostas também! Continuamos com nossas andanças e seguimos ao Espaço Cultural do SESI. Tivemos ali mais uma aula de história, arquitetura, economia, política e geografia. Tudo isso revelado pelas lentes das câmeras do final dos anos 50 daqueles que testemunharam a construção de Brasília, como: Marcel Gautherot, Peter Scheier e Thomaz Farkas. E como falar em construções e em Brasília e não citar Oscar Niemeyer e seus traços? Traços esses que foram relatados em desenhos, cartazes, fotografias e vídeos produzidos no mesmo período que surgira Brasília, com o olhar contemporâneo de quem já produzia pensando no futuro. Pareceu-me que esses artistas criavam nos dias de hoje, mas eram registros de quase 50 anos atrás. Bravo!
 
Na saída do prédio uma exposição de esculturas em bronze produzidas por alunos e professores do Sesi de Jundiaí-SP. Próximo dali uma exposição tecnológica de Natal, onde crianças e adultos se divertiam enquanto Papais Noeis estilizados dançavam ao som de Jingle Bells remixado. Algo tão moderno que meus olhos demoraram alguns minutos para se acostumarem.
Saímos de lá e fomos para a Praça da Sé, dessa vez em companhia de nosso guia mais ilustre: o Marquinhos, que nos mostrou exposições belíssimas, como as pinturas e desenhos de Bandeira de Melo, numa retrospectiva de sua obra. A exposição fotográfica e interativa Entre Tantos, de Geraldo de Barros, e as esculturas em Formas Silentes, de Luiz Martins. Tão bonito e emocionante como descobrir que às vésperas da viagem chovia muito por lá, mas durante nossa visita só foram vistas chuvas de alegria, e Lágrimas de São Pedro somente na instalação do artista Vinícius S.A, vista no Espaço da Caixa Cultural.Belíssima!


 
E pra fechar o dia com chave de ouro, voltamos à Avenida Paulista, só que desta vez para apreciar o encanto e beleza que os prédios e fachadas das noites natalinas nos proporcionavam. Grandes monumentos em formas e cores de Natal. Lembrei de minha infância. De quando meus pais saiam comigo e meus dois irmãos e contávamos as casas decoradas com enfeites e luzes natalinas. Lembrei da brincadeira que se estendia por todas as noites de dezembro e pensei que se fosse lá, perderíamos a conta. Eram muitas, por toda parte. Como seria bom se eles estivessem ali comigo. E estavam.

No quarto dia de viagem fomos ao Espaço do Itaú Cultural. E que exposição rica encontramos por lá! Tão rica quanto os grandes faraós do Egito, tão grandiosa quanto as pirâmides, tão bonita quanto a beleza de Cleópatra. Era o Egito sob o olhar de Napoleão. E já que estamos falando em riquezas, aproveitamos para ver, em outros andares, a Exposição Histórias de Mapas, piratas e tesouros, mostrando o fazer fotográfico de um coletivo de artistas latino-americanos e suas pesquisas. Tínhamos mais um mapa na mão, que alegria! Voltaríamos para Jampa cheias de tesouros!
No quinto dia de viagem fomos ao Museu da Língua Portuguesa e aprendi o verdadeiro significado da palavra F-A-S-C-I-N-A-Ç-Ã-O, pois mesmo diante de tantas letras, não consegui juntá-las para demonstrar o que se passou dentro de mim naquele momento. Tudo era mágico, encantador, emocionante! Tantas palavras, e eu fiquei sem nenhuma...

            De lá fomos à Pinacoteca do Estado de São Paulo e diante daquela arquitetura que me fez lembrar filmes épicos, vimos diversas esculturas nos pátios e jardins. No interior do prédio, destaque para a mostra de trabalhos da fotógrafa mexicana Graciela Iturbide; uma exposição que falava das cores; e desenhos no espaço, uma coletiva de 70 obras de grandes nomes da arte abstrata do Brasil e da Venezuela, como: Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel, Gego, Jesus Soto e outros.
Pinturas, esculturas e objetos que não puderam ser fotografados, mas que ficarão na minha memória...o espaço é tão encantador que por ali ficamos o resto da tarde. Vimos o laboratório de restauração de obras pelos vidros das salas, a maquete do espaço, uma parte do seu acervo permanente e um total de seis exposições. Realizada!
            Mais um dia, aliás, o último que nos restava. A saudade de casa já batia em nossa porta, mas ainda assim queríamos aproveitar os últimos momentos. Acordamos bem cedo e fomos para o SESC Pompéia, um pouco mais distante, mas um lugar que não poderia faltar no nosso roteiro, segundo alguns paulistanos que nos indicaram o local. E eles tinham razão. Um lugar lindo que me encheu de alegria e paz. Logo na entrada, uma individual do artista José de Quadros, com a exposição Sobreviver, e um espaço maravilhoso para leitura e descanso, onde vários já desfrutavam. Juntei-me a eles e fiquei a observar a beleza do lugar e o quanto é importante para aquelas pessoas ter um espaço como aquele. 

 
Perto de um rio artificial, um cenário de risos estava montado. Vimos a apresentação somente pelo vídeo, mas a exposição dos elementos que a compunham estava lá. Era o cenário da Cia. do Quintal - Palhaço + Improviso. Continuamos e a maior surpresa do lugar foi encontrar um galpão de oficinas artísticas, dentre elas: pintura, tapeçaria, gravura com mais de três prensas, cerâmica e seus cinco fornos de queima. Um espaço desses é o sonho de qualquer artista!
Na saída, uma exposição coletiva de brasileiros. Era Tripé Paralelo 30, de Gisele Watge, Rômulo Vieira e Túlio Pinto. Ainda tínhamos algo para ver: o espaço que tem o mesmo nome do lugar onde trabalhamos: Estação Ciência. Mais um local para ser explorado. E diante de tantas experiências, seres vivos, matemática, água, terremotos, vegetação, solos, ficamos ali experimentando e analisando cada detalhe daquele espaço.
Por fim, posso dizer que foi uma viagem inesquecível. Uma verdadeira overdose de arte. E quem falou que a cidade respira fumaça e ar poluído pode até estar certo, mas confesso que passou despercebido por mim, na verdade, foram sete dias respirando ARte puro, Pura ARte!  



*Tamara Sorrentino- Formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba; escreveu esse texto em dezembro de 2010, na ocasião fazia parte da equipe da Estação Cabo Branco - Ciência, Cultura e Artes - PB, trabalhando como curadora assistente.

Um comentário: