moinho de sonhos

A Menina de Engenho|criações surgiu da necessidade de mostrar um pouco do meu trabalho como artista visual. Como estou sempre criando e idealizando sonhos em forma de arte, resolvi mostrar alguns desses trabalhos e trocar idéias com os blogueiros que assim como eu estão sempre "moendo" novas idéias.

Sejam bem- vindos!

domingo, 24 de julho de 2011

CORDEL DO AMOR ENCANTADO

O poema mais lindo que eu já li na minha vida, e a melhor surpresa que eu já recebi, foi este que meu pai (Fernando Moura) fez pra gente. No post anterior eu falei sobre ele, mas não mostrei, agora está aí. Foi o momento que eu mais me emocionei no meu casamento e ele consegui me fazer borrar a maquiagem...

AOS QUE (AINDA) ACREDITAM NO AMOR. fm

CORDEL DO AMOR ENCANTADO
(OU A PRINCESA QUE VIROU RAINHA
NUMA LINDA NOITINHA DE SÃO JOÃO)

Para Tamara e Marcelo

Caros amigos e amigas
Padrinhos e familiares
Tios, sobrinhos e pares
Avós da mesma cantiga

Peço calma e pausa breve
Um instante de atenção
Pra deixar que o coração
Retumbe de forma mais leve

Desejo falar de alegria
De vida, carinho e amor
Camuflando lampejos de dor
Só deixando florar euforia

Pois hoje é dia de festa
Nasce uma nova família
Casa, pertences, mobília
E a lua brilhando na fresta

Um homem e uma mulher
Ungidos pela paixão
De crianças, quase irmãos
Agora são garfo e colher

Aquela menina bobinha
Aquele menino atento
O amor crescendo lento
Solidão perdendo linha

Falarei depois sobre os dois
Essa história é bem conhecida
Chamo agora a memória dormida
Evitando que às perca depois

O sogro pede licença
Para a entrada do pai
Do noivo não falo mais
Só se for na sua ausência

Pra isso tem o resto da vida
Bons momentos que virão
Mesmo em tempo de aflição
A estrada é de terra batida

Quero falar em Tamara
A princesa do castelo
Com ela é mais longo o elo
A minha joia mais rara

Semente fêmea do amor
Do louco casal precoce
Já nasceu antes da posse
Foi alívio antes da dor

Não chegaria primeiro
Na frente nasceu o irmão
Sentinela e guardião
Ciumento, mas seu parceiro

Viria logo em seguida
Nos idos de oitenta e quatro
Se comem três, comem quatro
Aconchego é alimento de vida

De uma pessoense e um paulista
Brota a flor paraibana
Exalando o mais doce aroma
A tela mais rara do artista

A voz retumbante da infância
Paradoxo da suavidade
Instantes que a eternidade
Moldam o adulto em criança

O cuidado com os irmãos
O mais novo era quase um filho
Jogou bola, fez barulho, estribilhos
“Os 3 mosqueteiros”, sem Dartanhã

Qualquer criança era “filha”
Suas bonecas preferidas
Babonas, choronas, fedidas
Foi bebê, seguia a trilha

Mesmo enferma, fraca, indefesa
A tudo conquistava com um sorriso
Distribuía a chave do paraíso
Sem ter noção dos seus raios de beleza

Mas se fosse escrever o que lembro
Dos medos e das descobertas
Das primeiras feridas abertas
Só pararia em 10 de setembro

O tempo me obriga a um resumo
Pulando para a juventude
Morena vendendo saúde
Cidadã em busca do rumo

O sabiá bateu asas e voou
Usava a brisa pra soprar uns cem moinhos
Galerias, luaus, queijos e vinhos
“Maria do Bairro”, o apelido levou

O trabalho também veio cedo
Independente, queria seu dinheiro
Viajar, mesmo em sonho, o mundo inteiro
O que a vida acenava, não tinha medo

Estudou, trabalhou, namorou
Da “cozinha”, o pai olhava sem jeito
A mãe, solidária, batia no peito:
“A vida protege quem carrega o amor”

Aí, volta o noivo para a história
Um, entre muitos pretendentes
Olho gordo, sorriso quente
Compôs a partitura da trajetória

E hoje, digo a vocês
Pra cada jarro há uma flor
Em horas de chuva ou calor
Cada um é aquilo que fez

Aqui chegaram sozinhos
Numa longa e austera planilha
Cada pote tem a sua rodilha
Cada casa tem o seu botãozinho

Vai, Tamara, siga seu caminho
A colmeia libera a doce abelha
Toda faísca tem origem na centelha
Boa asa sempre voa e volta ao ninho

Vai ser rainha do teu próprio castelo
Com as garras em riste da felina
Ser senhora sem largar de ser menina
Na defesa do certo, justo, claro e belo

Seja feliz, por direito e obrigação
Bondosa, como sempre soube ser
Generosa, a outra pele do seu ser
Geniosa, ora sim e outra não

Você não parte, transita
Usando as mãos para erguer a sua ponte
Abastecer de leite e sal a boa fonte
Seguindo altiva a nova etapa da conquista

Ao Sorrentino, ao Lima e ao Moura
Vai juntar a força dos Villar
Plantar semente, arar, regar
Para sempre colher boa lavoura

Que sobre seu corpo nunca falte teto
Que sobre sua mesa nunca falte pão
Que sobre sua cama sempre sobre paixão
E que o ventre fértil gere fortes fetos

Forme com Marcelo um outro galho
Espalhem ao mundo um novo dialeto
Só não esqueçam de conceber um neto
Do contrário, vou achar que é ato falho

Quando puderem, orem aos ancestrais
Às raízes que trançaram este chão
Sangue é sangue, seja amigo ou irmão
Vocês serão porque eles vieram atrás

Que os deuses da bondade lhes abracem
Em qualquer fé ou credo que professem
Só na paz os corações se aquecem
Só unidos farão que os maus se afastem

Assim como o sol que a tarde leva
Como a morna noite que abraça e acalma
Levem o melhor de nossas almas
Voltando amanhã em meio à relva
Na falta de ouro em pó
Tamara, te passo um repente
A poesia que embala o presente
Vai pra eterna parceira de forró

E neste dia falado e cantado
Bordado a dedo e pincel
À noiva, ofereço o mel
Ao noivo, meu mais caro legado

Para celebrar um novo tempo
Brindemos, cantemos, dancemos quadrilha
Lancemos loas ao filho e à filha
Eternizando a placidez deste momento

E viva os noivos!

João Pessoa
(como em uma noite de São João)
Paraíba, 16/7/2011

Fernando Moura


"Pai e mãe, ouro de mina"





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